Olá, olá, olhando o site da folha.com, vi a coluna de Ricardo Semler, empresário, escritor, e colunista da própria folha, onde ele posta um artigo que me chamou a atenção.
A nota é bem empresarial, mas é algo que nos interessa, e o que está acontecendo nos meses de setembro/outubro, quando o assunto Steve Jobs e Apple, está em pauta em todo canto de noticias.
Ainda não postei sobre a morte de Steve e o novo Iphone4S e outras maquinas da apple, mas estou colectando bases para formular uma nota legal aqui, que sim, Steve merece uma atenção, gostando ou não, nós Designers temos uma dívida com ele.
Mas voltando, aqui vai a nota do Ricardo, que por sinal, muito boa:
"Estavam reunidos há dias, os vários gênios. Verdadeiros gênios, como o Secretário da Defesa Robert McNamara, Dick Bissell, da CIA, e o presidente John Kennedy. A questão, nos idos de 1962, era clara: ou os EUA deixavam a União Soviética instalar mísseis em Cuba --portanto com distância fácil para atingir os EUA-- ou uma quarentena dos mares impedia a chegada de novas armas. Neste segundo caso, Kruschev apertaria o famoso botão vermelho, iniciando a terceira guerra mundial, desta vez atômica?
Centenas de teses tentaram elucidar a decisão que esta turma tomou, e que resultou do fiasco da Baia dos Porcos, desembocando na Crise dos Mísseis. Sem o apertar do botão, afinal --razão pela qual você está vivo para ler este artigo.
A conclusão mais interessante é a de que meteram os pés pelas mãos por que a decisão foi por comitê. Tivesse o Kennedy decidido sozinho e o final teria sido outro. Em grupo, os pontos fora da curva são aplainados. Coletivos não fazem grandes bobagens, só fiascos médios, e também não ousam.
É como a humanidade sempre se protegeu, avançando lentamente. Tanto assim que alguns dos países mais ricos do mundo, como a Arábia Saudita, proíbem mulheres de dirigirem. Os humanos andam bem devagarinho.
A tecnologia engana, e dá a impressão de que estamos andando a passos largos. Vide o acelerador de partículas em Genebra, que agora coloca uma dúvida sobre o Einstein ter errado, e ser possível um neutrino viajar a uma velocidade maior do que a luz --o que seria um divisor de águas em toda a física.
Steven Jobs não decidia em grupo. Ouvindo o zunido de um ventilador num computador a ser lançado, usou da prerrogativa monárquica --o bichinho voltaria à prancheta até que se inventasse a ventilação silenciosa. Qualquer comitê teria privilegiado o cronograma de produção e a necessidade de faturamento. Também quando errou com o Apple III, Jobs estava sozinho em suas convicções.
A pergunta que não cala é: uma empresa deve sempre sobreviver ao seu fundador? Ou é aceitável que ela exista apenas como veículo para um talento particular, vindo a morrer, lenta mas inexoravelmente, em seguida?
Só para ficar neste ramo, a IBM é uma sombra do que foi abaixo de Tom Watson Sr., a HP degringolou depois que Bill Hewlett se aposentou, e a Dell é só o Michael Dell. Netscape, Lycos e Atari --que foram todos líderes inovadores --não existem mais. A própria Microsoft, que dez anos atrás valia dezenas de Apples, agora vale bem menos do que uma.
Jobs, espiando do lado de lá, como tantos fundadores que se foram, deseja a perenidade deste seu veículo? Ou sabe que é apenas vaidade querer ver a empresa viver um século? Zuckerberg quer ver a rede Facebook viva e atuante daqui a 45 anos? É relevante, ou mesmo possível?
Talvez o caso Jobs nos lembre que não é preciso criar uma empresa para o todo sempre. É perfeitamente legítimo que seja uma extensão do fundador, enquanto durar, à la Vinicius. Se a Apple começar a tropeçar, com seus cinco membros do Politburo aplainando os extremos, não faz diferença. A não ser para os saudosistas.
Nosso próximo aparelho "high-tech" virá da Samsung coreana, da Haier chinesa ou da XXL californiana. Os empregados trabalharão em outro lugar, com o mesmo salário e sala, os fornecedores venderão para o novo rei do pedaço, os mercados globais se curvarão às novas majestades.
O rei está morto, longa vida ao rei! Foi-se um gênio especialmente genial, não resta dúvida. Ficou uma empresa normal. Que não tem licença para existir para sempre. Em todo gênio, um louquinho que ameaça apertar o botão vermelho, em cada comitê uma história de pequenos fiascos. Nem Baia dos Porcos, nem i4Ever."